quarta-feira, 23 de maio de 2012

Impressão cega

Ele fura o papel como quem estoura sacos-bolha. O som me diverte, ao contrário do que sua imaginação pensa. O que posso dizer? Hoje foi o segundo dia em meu trabalho voluntário, então tudo que aqui escreverei não passam de impressões "cegas", pois é ainda pouco tempo para formular um bom texto, sem contar que sempre mudamos um pouco de ideia a medida que aprofundamos em algo. Desde que me mudei para Uberlândia, tenho essa vontade de me empenhar uma vez por semana em um trabalho voluntário. Procurei uma creche, mas as pessoas desconfiam de tudo que é de graça, então me recuseram. Como eu vou muito à Biblioteca Municipal (que aliás, precisa urgente de reformas), me surgiu essa oportunidade de ajudar um cego, e eu topei! A primeira expriencia, portanto, foi na semana passada. O moço tem 16 anos e além de educado é muito inteligente. Pediu-me para q eu lesse uns tópicos para q ele pudesse transcrever em braile. Uma página na qual eu gastaria uns 5 minutos para ler, ele levou uma hora para "traduzir", além de ter gasto 5 folhas. Assim, nosso tempo tinha acabado. Primeiro eu pensei: "nossa, como deve ser difícil para ele!". Depois, me veio um sentimento de felicidade por existirem esses meios! Santo braile e santa tecnologia que vem proporcionando melhorias cada vez maiores para os cegos. Por exemplo, acredito que o computador dele, seja como membro da família: faz leituras e o auxilia a fazer as provas escolares. Fico só imaginando como era antes desses avanços...! Devia ser bem mais difícil, então eu sorrio! Sorrio porque na verdade, a vida só é ruim para quem a faz ruim. Nosso psicológico nos influencia em todos os sentidos. Pude ver, portanto, que não era um sentimento de dó ou piedade como eu temia que fosse, era um sentimento de felicidade por ajudar alguém, mas um alguém nada diferente de mim. Uma pessoa que merece respeito e não piedade, assim como todas as outras pessoas. Se há seres humanos diferentes, talvez seja no modo de pensar...!
O engraçado é que eu percebia um certo incômodo da parte dele. Perguntou-me uma vez se eu me irritava com o barulho repetido do furo. Outra vez, ele disse q costumava escrever muito mais rápido, mas tinha perdido o hábito devido ao uso frequente do computador (como se eu estivesse entediada com a demora). Fiquei depois me perguntando o porquê desse sentimento, se na verdade, eu estava lá para aquilo. Talvez ele tivesse passado por experiências negativas com pessoas impacientes. Tentei responder a tudo com certo humor e certas piadinhas para q ele se sentisse confortável na minha presença. Enfim, por hoje é isso...quem sabe faço mais alguns relatos mais maduros! Para mim, tudo isso é ainda um relato cego.


"Cego é aquele que enxerga apenas a si mesmo..."
Dirceu