sábado, 1 de maio de 2010

Sobre as cotas

Copiei este texto de um amigo porque reflete muito do que penso, entretanto seria incapaz de escrver tão bem quanto ele, que exemplificou e enriqueceu muito o texto. É um texto digno de uma reportagem, um texto que com certeza deveria ser divulgado e é por isso que estou copiando em meu blog. Ruan, parabéns pelo excelente texto, espero que induza mais pessoas a pensarem a respeito, principalmente nossos governantes.


O sistema de cotas

Estou tentando fazer apenas uma postagem por dia. Estipulei isso para não acabar gastando praticamente todo o meu dia com meu blog. E olha que se não tivesse nada mais importante para fazer seriam pelo menos umas três postagens diárias. E considerando o tempo que uma postagem costuma levar...

O texto que se segue tem como propósito falar sobre o sistema de cotas para negros adotados por algumas universidades e que foi inclusive proposta pelo próprio governo federal, talvez influenciado pela visão da UnB, que foi a primeira universidade pública e federal a adotar o sistema.


Antes de iniciar o assunto gostaria de comentar duas coisas. É muito comum o uso do termo "racismo" para determinar a discriminação e o preconceito contra pessoas de cor de peles diferentes. Mas, sinceramente acredito que esse termo deveria ser deixado de lado, uma vez que está relacionado à raça, e biologicamente falando não há nada que sustente a ideia de que negros e brancos são de raças diferentes. Somos todos pertencentes a uma mesma raça e devemos o mais rápido possível abandonar essa ideia ultrapassada de "racismo científico". Infelizmente terei que recorrer muitas vezes a essas expressões por falta de opção.


A outra coisa que gostaria de comentar é o fato de se referir aos negros como afro-descendentes. Todos nós, pelo que tudo indica, somos afro-descendentes e, além disso, não necessariamente todo africano tem que ser negro e nem todo negro tem que ser africano, ou de descendência próxima de africano.


O vestibular é hoje o principal meio de entrada nas universidades brasileiras. Infelizmente, nem todos os vestibulandos tiveram as mesmas oportunidades de preparação e estudo para essas provas. Aqueles que fizeram o uso do ensino público levam uma enorme desvantagem em relação àqueles que puderam pagar e estudar em uma escola particular.


Não há duvidas que, se fosse dada as mesmas oportunidades a muitos estudantes, que hoje dependem do ensino público, eles conseguiriam sem dificuldade entrar numa boa faculdade. E isso se comprova no fato de que dentre os melhores alunos nas universidades encontram-se muitos daqueles que estudaram em escolas públicas e conseguiram ingressar na faculdade, seja por meio de programas sociais promovidos pelas próprias universidades, ou pelo programa ProUni do governo federal.



Mas por que os negros são uma minoria no ensino superior do Brasil?


Isso pode ser explicado por dois principais motivos. O primeiro é o fato de serem as principais vítimas, assim como muitas outras pessoas também são - mestiças, mulatas ou brancas - da precariedade do nosso sistema público de educação, que não os consegue preparar devidamente para o vestibular, como já comentado no parágrafo anterior.


O segundo motivo pode ser explicado pela própria renda familiar desses estudantes, que é mais baixa entre os negros, obrigando boa parte dos jovens e até mesmo crianças a abandonarem os estudos para ajudar no orçamento familiar. É um círculo vicioso: por geralmente serem mais pobres, os negros acabam estudando menos e consequentemente acabam permanecendo na pobreza. Veja que, a explicação para a pergunta se encontra hoje fundada em um problema econômico, consequente de um passado onde os negros eram escravos e não eram considerados cidadãos.


É compreensível que algumas pessoas pensem no sistema de cotas como uma solução para essa triste realidade. Entretanto, apesar de a ideia ser fundada numa boa intenção, ela se mostra insuficiente e equivocada. Hoje, procura-se evitar que decisões sejam tomadas baseando-se na cor da pele de uma pessoa, como há muito tempo era feito em todo o mundo. Contudo, o que as cotas acabam fazendo é justamente isso; elas usam como critério de entrada nas faculdades a "raça" de uma pessoa.


O primeiro problema que surge, no meio de tudo isso, é a dificuldade na definição de quem é negro. E no Brasil, onde temos essa grande miscigenação de povos, é ainda mais complicado fazer essa definição. Por essa razão, o critério de decisão nas universidades, em seus "tribunais raciais", acaba sendo muito subjetivo. Por causa dessa subjetividade, quantas pessoas já não se disseram negras visando apenas se beneficiar com as cotas? E quantas não foram, injustamente, desconsideradas negras?


Aconteceu um caso na UnB que reflete muito bem esse problema. Dois irmãos gêmeos univitelinos (de aparência idêntica), filhos de pai negro com mãe branca, não tiveram o mesmo destino no sistema de cotas da UnB. Um deles foi aceito pelos critérios estabelecidos pela universidade enquanto que o outro não foi. Essa história mostra como realmente é subjetivo a definição de quem é ou não negro, além de expor a fragilidade do sistema de cotas.

Além disso, vale acrescentar que a grande miscigenação de povos no Brasil contribui, inclusive, para uma democracia das “raças”, e por causa disso, o preconceito neste país está longe de assumir as mesmas proporções do preconceito que evidenciamos nos EUA, por exemplo. Não podemos misturar os diferentes cenários do mundo e tratar de um preconceito "racial" como universal, quando cada cenário, inclusive o do Brasil, tem suas especificidades. Entretanto, o preconceito ainda existe, não apenas por parte de não-negros, mas também por parte da própria população negra.



Voltando ao assunto... Os problemas das cotas não acabam por aí, muitas coisas ainda são questionáveis nesse sistema. Por exemplo, faz sentindo um negro, que teve as mesmas condições que um branco rico, e estudou nas melhores escolas, sem nunca enfrentar alguma dificuldade, seja beneficiado só por ser negro? Olha que isso já aconteceu! Se não estiver enganado foi com o filho de algum político, também na UnB.


Imagine você depois de todo o seu esforço para entrar numa boa faculdade se encontrando na seguinte situação: você consegue uma nota superior ou igual a de outros candidatos, só que você não consegue entrar na faculdade escolhida enquanto que esses outros conseguem, só por terem uma cor de pele diferente da sua, mesmo que todos sejam da mesma classe social ou até tenham estudado nos mesmos colégios. É isso que devemos apoiar?


Também é muita ingenuidade pensar que “empurrar” os negros para dentro da faculdade vai solucionar os problemas de preconceito no país ou acabar com os problemas sociais - que hoje não se restringe apenas a uma população negra. Isso tudo, nada mais é, que uma forma de mascarar o verdadeiro problema, mesmo porque, se nada parece estar errado então podemos supor, ou pelo menos nos fazer acreditar, que nada está errado, não é mesmo? Assim, todos poderão andar pelas universidades sem serem obrigados a terem que se deparar com essa inconveniente realidade brasileira que é bastante desconfortável.


Alguns justificam que as cotas estão lá para promover um resgate social. Sem dúvidas, temos uma dívida eterna com os negros por causa do nosso passado escravocrata. Mas, não só os negros, mas todas as outras vítimas do nosso passado (como as mulheres), sempre lutaram pela igualdade perante todo o resto da sociedade. E, com certeza, o sistema de cotas não possui nada de igualitário. Além disso, não podemos (nem devemos) simplesmente colocar os negros em posições específicas dentro da sociedade, posições das quais foram sempre excluídos, apenas para promover esse resgate. Devemos é criar condições para que eles possam conseguir, através dos seus próprios méritos, essas posições.


Acredito que as universidades deveriam ir em direção ao que a USP tem feito com seu programa Inclusp, que considero um dos melhores programas de inclusão social. De forma resumida, a universidade dá uma ajuda nas notas, nas provas de vestibular, das pessoas de baixa renda e provenientes de escolas públicas. O programa ainda tem muito que melhorar, mas já vemos que ele está no caminho certo.


Em 2009 podemos perceber que 27,4% dos aprovados no vestibular da FUVEST fizeram o seu ensino médio em escola pública do Brasil. Já é um grande avanço, considerando que em muitos lugares essa porcentagem não passa nem dos 5%. Além disso, os resultados devem ser ainda melhores no vestibular de 2011, que começará agora no final do ano, por causa do PASUSP - uma avaliação seriada que foi incluída no programa para ajudar ainda mais os alunos da rede pública.


No entanto, programas como o Inclusp ainda não garantem, sozinhos, a entrada significativa de negros na universidade. Entre os aprovados que vieram da rede pública, os negros também são uma minoria. O motivo já foi explicado neste texto: muitos desses negros acabam abandonando as escolas e não chegam a terminar os estudos, e o Inclusp acaba ajudando apenas aqueles que completam o ensino médio.


E de fato, o jovem negro possui uma média de anos de estudo inferior aos do jovem branco. Devemos ainda lembrar que, quanto maior o nível de pobreza numa determinada parcela da população, maior é a proporção de negros pertencentes à ela.


Mas se nas próprias escolas, muitos dos negros já não estão presentes, como é que podemos esperar que eles estejam nas universidades? Ora, então se tiver que aplicar o sistema de cotas, que seja nas próprias escolas e não nas universidades. É claro que, na verdade, o que se deve aplicar é uma política de incentivo à permanência desses estudantes nas escolas, isso pra não dizer que, o que precisamos, é de toda uma reestruturação do nosso ensino básico.



Reparem: sempre empurram todos os problemas desse país para as universidades, só porque o ensino superior é o único ensino que funciona devidamente no Brasil! Sempre sobra pra as instituições superiores resolver os problemas, principalmente os originados dessa nossa lamentável educação básica. Tal obrigação não deveria recair sobre as universidades , que apesar disso, fazem muito para ajudar. Eu te pergunto: quantas mudanças significativas foram executadas ou devidamente propostas nos últimos anos para o nosso ensino básico público ou particular - que também apresenta muitos problemas?


O que vemos são só ações reparativas e ainda por cima, no setor errado! O problema é mais embaixo pessoal!!!

Um comentário:

  1. Só agora descobri que posso comentar como "mebro do blog". Hahaha, como sou lerda. =P

    Sobre as cotas, comentei no blog do Ruan, depois olha lá. Rsrs

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